Sempre trabalhei em atividades que exigiam pressa nas decisões,
máquinas importantes estavam paradas, acidentes haviam ocorrido, clientes estavam
com pressa, linhas produtivas tinham parado, plataforma de petróleo estava
quase parando e equipe precisava embarcar para sanar problema, a imprensa
queria porque queria informação sobre culpados do acidente aeronáutico, etc.,
etc. A pressa, a pressão do mundo moderno onde não mais conversamos, onde não
mais planejamos as decisões. Elas são tomadas na velocidade de um clique na
tecla. Nem mais vamos ao local investigar, tomamos decisões vendo fotos pela
rede. Uma vez um chefe me disse; “quero que fiques longe dos problemas diários
da empresa, quero que foques nas melhorias, no planejamento, na busca das
causas e não em simplesmente apagar o fogo, deixa isso conosco”. Chamava-se Bordignon, na época gerente
da qualidade da Hitachi. Como ele me ensinou demais...O problema é conseguir
fazer isso. Você fica vendo todos correndo como loucos atrás de apagar os
incêndios e se sente meio que deslocado, que deveria estar ali também. E os
chefes valorizam tanto aqueles que correm como baratas tontas, como se eles sim
resolvessem as coisas. Que nada, não passam de bombeiros perdidos apagando o fogo
e sem terem tempo de investigar o foco do incêndio para que não ocorra
novamente.
Estes dias assistia o Pe. Fábio de Mello e ele dizia que tinha pavor
da pressa. Eu também, gosto de parar o tempo, avaliar o que fiz, o que vou
fazer. Se não para que viver, se nem tempo temos para aprender com as lições
dadas dia a dia na vida? Estaremos apenas vegetando como robôs, como Chapplin no
filme “Tempos modernos” apertando parafusos. O que fizemos foi correto para a nossa
jornada? Que rumos devemos corrigir? Quem agredimos ou prejudicamos? Você hoje
tem tempo de pensar nisso, de se preocupar com isso? Ou já está pensando na
próxima ação e sem nem saber para que servirá ou como fará para a executar.
Quando chega domingo me apavoro, começa a findar o dia e eu fico
triste, ruim, porque vai começar novamente a rotina de bombeiro...Claro que não
é insatisfação com o trabalho, devo agradecer sempre ao Pai por tê-lo, sei o que
é estar sem ele, mas começarei novamente a pressa, isso que me apavora.
O órgão mais importante do nosso corpo é o cérebro e não o estamos
mais usando como deveríamos. Para pesquisar curas, pensar nas causas dos
problemas e achar as soluções. Para reunirmos outros cérebros e juntos
planejarmos projetos, ações para melhorar nossas vidas, nossas empresas. Não, o
melhor é sairmos dando tiros para todos os lados, fingirmos que estamos agindo
com ímpeto, com vontade e que, assim, nossos chefes estarão orgulhosos de nós.
Esse é o cara que resolve as coisas. Que nada, não passamos de marqueteiros. Se
você parar, planejar, criar objetivos, pensar, reunir a equipe e saber usar os
conhecimentos dela, aí você cria algo sustentável, algo realmente sobre
concreto e não sobre areia. Se fala tanto em produtividade, mas não é, é sim fogo de
palha.
Se corre, se corre e se faz tudo novamente porque não foi bem feito. Por
isso adoro voar, seja pilotando um avião, seja em 50 segundos de queda livre e
mais 3 min pilotando um paraquedas, tempos curtos, mas onde me sinto livre do
tempo. O espiritismo mostra que quanto mais rápida é a vibração das moléculas
mais longe da matéria estamos. No nosso corpo, muito material, estamos em
baixas frequências e, instintivamente, queremos ser cada vez mais rápidos, mais
energia. Mas não confundam. As criações do progresso servem para nos deixar
livres para pensar e não ficar dependentes de um teclado. Não mais olhamos nos
olhos, não mais conversamos, não mais trocamos ideias. Não temos mais tempo
para sentarmos em baixo de uma macieira e pensarmos na teoria da gravidade
devido à maça que caiu na nossa cabeça. Hoje nem mais tempo para plantar a
macieira nós temos. Logo uma máquina fará isso. Ótimo, mas e quanto ao tempo
que sobrou? Vamos nos sentir culpados por aproveitá-lo pensando no que fazer de
melhor e acharmos que estão pensando que somos vagabundos ou preguiçosos?