domingo, 16 de agosto de 2015

Pressa, não tenho tempo para pensar


Sempre trabalhei em atividades que exigiam pressa nas decisões, máquinas importantes estavam paradas, acidentes haviam ocorrido, clientes estavam com pressa, linhas produtivas tinham parado, plataforma de petróleo estava quase parando e equipe precisava embarcar para sanar problema, a imprensa queria porque queria informação sobre culpados do acidente aeronáutico, etc., etc. A pressa, a pressão do mundo moderno onde não mais conversamos, onde não mais planejamos as decisões. Elas são tomadas na velocidade de um clique na tecla. Nem mais vamos ao local investigar, tomamos decisões vendo fotos pela rede. Uma vez um chefe me disse; “quero que fiques longe dos problemas diários da empresa, quero que foques nas melhorias, no planejamento, na busca das causas e não em simplesmente apagar o fogo, deixa isso conosco”. Chamava-se Bordignon, na época gerente da qualidade da Hitachi. Como ele me ensinou demais...O problema é conseguir fazer isso. Você fica vendo todos correndo como loucos atrás de apagar os incêndios e se sente meio que deslocado, que deveria estar ali também. E os chefes valorizam tanto aqueles que correm como baratas tontas, como se eles sim resolvessem as coisas. Que nada, não passam de bombeiros perdidos apagando o fogo e sem terem tempo de investigar o foco do incêndio para que não ocorra novamente.

Estes dias assistia o Pe. Fábio de Mello e ele dizia que tinha pavor da pressa. Eu também, gosto de parar o tempo, avaliar o que fiz, o que vou fazer. Se não para que viver, se nem tempo temos para aprender com as lições dadas dia a dia na vida? Estaremos apenas vegetando como robôs, como Chapplin no filme “Tempos modernos” apertando parafusos. O que fizemos foi correto para a nossa jornada? Que rumos devemos corrigir? Quem agredimos ou prejudicamos? Você hoje tem tempo de pensar nisso, de se preocupar com isso? Ou já está pensando na próxima ação e sem nem saber para que servirá ou como fará para a executar.

Quando chega domingo me apavoro, começa a findar o dia e eu fico triste, ruim, porque vai começar novamente a rotina de bombeiro...Claro que não é insatisfação com o trabalho, devo agradecer sempre ao Pai por tê-lo, sei o que é estar sem ele, mas começarei novamente a pressa, isso que me apavora.

O órgão mais importante do nosso corpo é o cérebro e não o estamos mais usando como deveríamos. Para pesquisar curas, pensar nas causas dos problemas e achar as soluções. Para reunirmos outros cérebros e juntos planejarmos projetos, ações para melhorar nossas vidas, nossas empresas. Não, o melhor é sairmos dando tiros para todos os lados, fingirmos que estamos agindo com ímpeto, com vontade e que, assim, nossos chefes estarão orgulhosos de nós. Esse é o cara que resolve as coisas. Que nada, não passamos de marqueteiros. Se você parar, planejar, criar objetivos, pensar, reunir a equipe e saber usar os conhecimentos dela, aí você cria algo sustentável, algo realmente sobre concreto e não sobre areia. Se fala tanto em produtividade, mas não é, é sim fogo de palha.
Se corre, se corre e se faz tudo novamente porque não foi bem feito. Por isso adoro voar, seja pilotando um avião, seja em 50 segundos de queda livre e mais 3 min pilotando um paraquedas, tempos curtos, mas onde me sinto livre do tempo. O espiritismo mostra que quanto mais rápida é a vibração das moléculas mais longe da matéria estamos. No nosso corpo, muito material, estamos em baixas frequências e, instintivamente, queremos ser cada vez mais rápidos, mais energia. Mas não confundam. As criações do progresso servem para nos deixar livres para pensar e não ficar dependentes de um teclado. Não mais olhamos nos olhos, não mais conversamos, não mais trocamos ideias. Não temos mais tempo para sentarmos em baixo de uma macieira e pensarmos na teoria da gravidade devido à maça que caiu na nossa cabeça. Hoje nem mais tempo para plantar a macieira nós temos. Logo uma máquina fará isso. Ótimo, mas e quanto ao tempo que sobrou? Vamos nos sentir culpados por aproveitá-lo pensando no que fazer de melhor e acharmos que estão pensando que somos vagabundos ou preguiçosos?