quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

A revisão da Norma ISO 9001:2015 auxiliando a gestão estratégicadas organizações


A revisão da Norma ISO 9001:2015 auxiliando a gestão estratégica das organizações

Carlos Filipe dos S. Lagarinhoscarlosfilip@uol.com.br

Resumo:      Este artigo tem como objetivo ajudar as organizações a compreenderem a enorme oportunidade de usar o ISO 9001: 2015 como uma ferramenta estratégica visando ter um sistema de gestão eficaz. Como resultado obterem a realização de metas, a redução de custos, padronização de processos, melhoria, maior satisfação dos "stakeholders", alinhamento das metas em toda a organização, a implementação de uma visão mais preventiva com o uso de gestão de riscos, uma maior participação dos líderes, etc. A organização deve ter a compreensão de uma certificação como um resultado de um sistema de gestão eficaz e não apenas um certificado pendurado na parede.

Palavras-chaves:  ISO, Sistema de Gestão, Ferramenta Estratégica.

 
The revision of ISO 9001:2015 assisting the organizations strategic management

Carlos Filipe dos S. Lagarinhoscarlosfilip@uol.com.br

Abstract:     This article aims to help organizations understand the enormous opportunity to use the ISO 9001: 2015 as a strategic tool to have an effective management system and as a result the achievement of goals, cost reduction, standardization of processes, improvement, greater satisfaction of "stakeholders", alignment of goals throughout the organization, implementation of a more preventive vision with the use of risk management, greater involvement of leaders, etc. The organization must have an understanding about certification as a result of an effective management system and not just a certificate hanging on the wall.

Keyword:     ISO, Management System, Strategic toll.
 
1.     Introdução

                  Percebe-se ao longo dos anos mais e mais empresas se certificando nas normas ISO e ao mesmo tempo uma vulgarização das mesmas no conceito de algumas organizações. Como existem algumas organizações que só se preocupam em obter o certificado para fins comerciais elas perdem a grande oportunidade de usar um sistema de gestão padronizado e coberto por requisitos definidos por vários países, vários profissionais experientes, lições aprendidas, etc. Um “know-how” desperdiçado porque alguns comprometeram a confiança no bom uso da Norma. Até vemos algumas organizações que não querem a certificação, contudo aplicam os requisitos da Norma para terem eficácia nos seus processos e satisfação dos seus “stakeholders”. Contudo vemos uma grande maioria das organizações usando os seus esforços para apenas atenderem os requisitos quando perto de auditorias na intenção de enganar o auditor. Buscam apenas o pedaço de papel com o timbre da certificadora, só isso. Essas organizações não querem a padronização, a identificação das competências, o comprometimento das lideranças, a seleção e avaliação correta dos fornecedores, a maior satisfação dos seus clientes. Isto que leva ao comprometimento da credibilidade da Norma ISO.

A organização não governamental ISO foi fundada em Genebra em 1947 e está presente em mais de 180 países o que lhe dá total credibilidade. Para ter-se uma ideia sobre o trabalho envolvido numa revisão de uma Norma ISO, desde a última revisão da ISO 9001:2008 já se trabalhava para a criação da nova ISO 9001:2015. Para isso foram considerados, entre outros, os seguintes “inputs”;

- Pesquisa mundial sobre as necessidades para a nova norma;

- Levaram-se em consideração novos conceitos de gestão (ex.: Gestão de Riscos);

- Aplicaram-se lições aprendidas das revisões anteriores;

- Aplicaram-se as dúvidas de interpretação levantadas em relação à última revisão, já visando evitar as mesmas dúvidas na nova Norma.
                  Isto demonstra o envolvimento e o “know-how” empregados e ganhos na revisão da ISO 9001:2015, tornando-a mais robusta e ajudando as organizações a serem mais sustentáveis. Claro, se essas organizações lembrarem-se da Norma como ferramenta de gestão e não como um meio para obterem o certificado. Se a organização usar cada requisito da Norma para melhorar os seus processos ela terá um Sistema de Gestão da Qualidade mais eficaz e terá uma sustentabilidade maior no mercado devido a uma imagem de bom atendimento e produtos ou serviços de qualidade. Com toda a certeza qualquer certificadora estará auditando essa organização com louvor e a organização receberá um certificado de qualidade e não de papel.
 
2.     A nova Norma NBR ISO 9001:2015

As principais mudanças trazidas nesta revisão foram:

a)     Maior ênfase na geração de valor para a organização. Agora a organização deve levar em conta o seu contexto (ambiente interno e externo), deve identificar as necessidades e expectativas dos seus “stakehokders” (envolvidos) e não só dos seus clientes. Isto agrega valor ao seu perfil e seus produtos ou serviços;

b)  Exige da empresa uma visão preventiva maior através da identificação de riscos, análise e ações mitigadoras ou de eliminação desses riscos. Os objetivos da organização, assim, tornam-se mais concretos e garantidos na sua eficácia. Além disso, esses objetivos saem da análise do contexto e da identificação das necessidades e expectativas assinaladas no item acima. Isto torna esses objetivos mais robustos e permeáveis pela organização como um todo;

c)   A nova Norma solicita maior “feedback” das partes interessadas;

d)  Uma maior flexibilidade na documentação. Por exemplo, não há mais a obrigatoriedade de um Manual da Qualidade e deixa a necessidade de procedimentos documentados sob a responsabilidade maior da organização;

 

e)  A criação de uma estrutura da Norma igual para todas as Normas que fazem parte de um Sistema Integrado de Gestão. A Norma ISO 9001:2015 (Qualidade), a ISO 14001:2015 (Meio Ambiente) e a ISO 45001: xxxx (Segurança e Saúde Ocupacional, antiga OHSAS) terão todas, o mesmo formato, os mesmos requisitos. Isto facilita o conhecimento, as auditorias, a gestão, etc.

f)   Maior facilidade de aplicação em empresas de serviços;

g)  A obrigação de um maior envolvimento das altas direções e lideranças das organizações já que todo o Sistema de Gestão da Qualidade começa com objetivos definidos por eles e levando em conta o contexto da organização e as necessidades e expectativas dos “stakeholders”. Isto exige planos mais estratégicos e, portanto, maior comprometimento destes níveis hierárquicos. O Sistema de Gestão da Qualidade não fica mais sob a única responsabilidade do departamento da Qualidade ou do RD (Representante da Direção). Aliás, este não é mais exigido por esta Norma.

h) Mantem-se o cliente como o foco principal da Norma.


Na revisão, visando facilitar a formação de um Sistema Integrado de Gestão foi criada uma estrutura de Alto Nível, o Anexo SL, conforme figura 1 abaixo.



 

                        Fig. 01- Anexo SL  

                                                                                                                 

Com esta estrutura igual para as três principais normas, a ISO 9001:2015 (Qualidade), a ISO 14001:2015 (Meio Ambiente) e a nova ISO 45001:xxxx que irá substituir a OHSAS 18001:2007 (Segurança e Saúde no Trabalho) um Sistema Integrado de Gestão será mais coeso, mais padronizado, mais fácil de auditar, mais fácil de entendimento por todos da organização, conforme figura 2 abaixo.

                               Fig. 02- Formatação de um Sistema Integrado de Gestão

 Este artigo está endereçado à ISO 9001:2015 pelo objetivo dela ser a que mais foca no atendimento ao cliente e, portanto, ser mais estratégica para a sustentabilidade da empresa no mercado, contudo tudo o que está escrito aqui se aplica às três Normas. Lembramos que tanto a 14001 de Meio Ambiente como a 45001 de Segurança e Saúde no Trabalho, envolvem legislação, prevenção de acidentes, etc. que podem também fortemente comprometer a sustentabilidade de uma organização no mercado. As três Normas hoje podem e são usadas como um ponto positivo numa bolsa de ações, por exemplo.

 Contudo vamos usar a qualidade como base para se começar a estruturar um Sistema Integrado de Gestão já que, não havendo cliente comprando por insatisfação com a organização, não haverá necessidade de preocupação com meio ambiente e segurança. A organização estará fechada e não haverá mais riscos de acidentes ambientais ou pessoais.

Uma das principais e importantes mudanças na Norma ISO 9001:2015 foi a de obrigar a organização a identificar o seu contexto, as necessidades e expectativas dos envolvidos, agora como requisito e não mais como pretensão. Isto cria na organização uma necessidade de maior envolvimento da alta direção e dos níveis de gestão de processos. Através deles é que o escopo, os objetivos, etc. devem ser estabelecidos e com as informações derivadas dos requisitos novos citados, contexto e necessidades e expectativas. Até a seleção dos envolvidos no escopo fica mais criteriosa de acordo com a organização. Ou seja, conforme a figura 3 entende-se que a norma tornou-se mais estratégica do que a anterior. Não se fixa apenas em requisitos de documentação e conformidade, obriga a organização a ser mais forte com os seus objetivos.


 

                            Fig. 03- Requisitos iniciais e estratégicos da ISO 9001:2015

 Outro ponto importante na revisão ISO 9001:2015 foi a inclusão do conceito de gestão de riscos. As organizações já entendem e algumas aplicam a identificação dos riscos e ações mitigadoras para reduzir ou eliminar estes riscos. Na nova Norma isto se tornou um requisito, portanto obrigatório. Para os objetivos definidos pela organização, ela deve identificar os riscos e gerenciar os mesmos através da probabilidade, consequência, resposta (evitar, reduzir, compartilhar o risco, aceitar o risco, etc.), tratamento, monitoramento, etc. Tudo isto evidência uma garantia maior da organização em aplicar uma visão preventiva para que os objetivos definidos sejam alcançados. Agora não se olha apenas um indicador de desempenho e se age no mesmo quando a meta não foi alcançada, agora se trabalha para que riscos não venham a se concretizar e impactar nessa meta e, portanto, o objetivo definido vai ter muito mais chance de se concretizar através dessa visão preventiva.

Na figura 4 observa-se uma das ferramentas que pode ser usada para iniciar o processo de identificação do contexto da organização e que dispara a busca de objetivos mais robustos.


 
   
 

 

 

                             Fig. 04- Matriz “SWOT” para identificação do contexto

 Identificado o contexto, identificadas as necessidades e expectativas dos envolvidos no escopo do Sistema de Gestão, mais facilmente podem ser definidos os objetivos. Em seguida com os riscos identificados e gerenciados, a organização será mais forte.

Finalmente a pergunta que alguns empresários farão; “Quais razões para eu ter certificação ISO?”.

-Razões contratuais (“livre e espontânea pressão do mercado”): Para a maioria de fornecimentos de produtos e serviços, tanto para exportação como para mercado interno e setor público como setor privado existe uma forte cobrança em contrato;

-Competitividade (“ou nos enquadramos ou perdemos para a concorrência”): Conscientização de todos da organização mostrando que a certificação torna a empresa mais sustentável, organizada, padronizada resultando na sua melhoria contínua;

-Modismo (“dançamos o que toca”): Normalmente o processo é abandonado no meio do caminho por não haver a conscientização e confiança por todos os envolvidos;

-Alta Direção (“livre e espontânea vontade”): Consciência das vantagens de um Sistema de Gestão sólido e mantido. Das razões expostas, esta é a melhor razão, pois o Sistema de Gestão estará sobre fundações sólidas e não baseadas apenas na obtenção de um pedaço de papel, o certificado ISO.

 
3.     Conclusão

A revisão da Norma veio da grande experiência de muitos envolvidos, de informações obtidas durante anos, portanto é uma ferramenta que pode ser usada como “Lessons Learned” e ajudar as organizações a serem muito melhores em relação à Qualidade, ao Meio Ambiente e à Saúde e Segurança no Trabalho. As organizações podem e devem usar a Norma ISO 9001:2015 como uma ferramenta estratégica para possuírem um Sistema de Gestão da Qualidade eficaz e com objetivos que tornem todos os envolvidos (“stakeholders”) satisfeitos.
                                                                                                                                                                         Uma organização sustentável a longo tempo e não aquela que possuiu um certificado, mas que não será eficaz por muito tempo.

E para tudo isso ocorrer existe a importância fundamental da participação da direção e dos níveis gerenciais desde a identificação do contexto, necessidades, determinação dos objetivos, ações, etc. A revisão da Norma faz com que as organizações evidenciem uma visão estratégica e prevencionista maior do que na Norma anterior.

 4.     Fontes:

-QSP

-BSI group

-DNV

-ISO

 

Carlos Filipe dos Santos Lagarinhos

Ger. da Qualidade, auditor líder SIG

15 981268866

 

 

 

 

 

 

 

 

 
                                                                                 

domingo, 21 de fevereiro de 2016

Planejamento ou resultado imediato?


No mercado competitivo de hoje não podemos esperar, pensar, colocar empecilhos às decisões em prol de resolver os problemas. Quando uma decisão é discutida claro que não podemos sempre dizer não, ou colocar obstáculos, devemos ir em frente.  Contudo sempre devemos identificar riscos possíveis e ações mitigadoras ou que eliminem esses riscos. Não é não fazer, é fazer com cuidados e fazendo com que a ação seja realmente eficaz para a organização. Isso é ter mente preventiva e não uma mente desanimadora ou negativa. Quando nos envolvemos com segurança, com prevenção ou investigação de acidentes, quando lidamos com a área da qualidade, quando pensamos na real sustentabilidade de uma organização, é fundamental termos esta visão prevencionista, não atrapalhadora. Toda a organização que pensa no imediato, no atingir os números daquele mês a todo o custo, tenderá a não ser sustentável a longo tempo. No entanto as que levantam os problemas e ações necessárias, que sabem da necessidade de decisão com rapidez senão o mercado resolve primeiro, mas que identificam os riscos, os gerenciam, aí sim, essas serão sustentáveis, tomarão decisões com todas as garantias tomadas para que os riscos não se tornem realidade ou, pelo menos, sejam reduzidos. Essas organizações serão sustentáveis a logo prazo, baseadas em fatos e dados, em análise crítica desses dados e não no emocional, no achismo e no eu sei o que estou fazendo. Todas as organizações que planejam, não quer dizer que são menos rápidas do que o mercado faminto, mas serão mais firmes e eficazes. As outras mostrarão números imediatos, parecerão vencedoras, mas os riscos inerentes e que não foram identificados e trabalhados, se ocorrerem, poderão até fechá-las no mercado. Como diz o ditado, “nem tanto ao mar e nem tanto à terra”, vamos ser rápidos como o mercado pede, contudo vamos planejar coma razão e não com a emoção. Mais de vinte países, inúmeras consultas globais, etc. levaram à revisão da norma ISO 9001:2015, recém-publicada e adivinhem um dos principais requisitos da mesma. A gestão de riscos. Além desse existe a obrigação das organizações identificarem o contexto da organização, as necessidades e expectativas dos envolvidos (“stakeholders”) e não só dos clientes. Ou seja, a exigência por trabalhar com dados, com planejamento está muito mais forte...