sábado, 21 de setembro de 2013

A QUALIDADE E A GESTÃO DE EMPRESAS


A QUALIDADE E A GESTÃO DE EMPRESAS

POSSÍVEIS CONFLITOS


QUALITY AND COMPANIES MANAGEMENT

POSSIBLE CONFLICT


Carlos Filipe dos Santos Lagarinhos

Engenheiro Industrial Mecânico,

Auditor Líder em Sistemas Integrados de Gestão (ISO 9001; 14001 e OHSAS 18001)
carlosfilip@uol.com.br
http://carlosfilipelagarinhos.blogspot.com/

Resumo:

Mostrar a importância de qualquer tipo de gestão empresarial não perder o foco na qualidade já que esta é fundamental para a sustentabilidade do negócio e não só a eficiência financeira. O que pode demitir desde o faxineiro até o diretor presidente de uma empresa é o cliente insatisfeito sendo cliente com o concorrente. Fala-se em Governança Corporativa, Gestão Matricial, exemplos usados neste artigo, contudo a área da Qualidade não é colocada com a devida importância nessa cadeia administrativa, como assessora da presidência, com força sobre os processos que formam o Sistema de Gestão da Qualidade e que é responsável pela satisfação final do cliente. Se a organização for então certificada, por exemplo, pela norma ISO 9001:2008, este conflito qualidade e gestão empresarial é mais critico e pode impactar em não conformidades e até perda do certificado.
Summary:

Show the importance of any type of enterprise management not to lose focus on quality as this is essential for the sustainability of the business and not just financial efficiency. What can resign from the janitor to the CEO of a company is the customer being dissatisfied customer with competitor. Speaks on Corporate Governance, Matrix Management, examples used in this article, however the area of Quality is not placed with due importance in the administrative chain, as advisor to the president, forcefully about the processes that make up the Quality Management System and that is responsible for the ultimate satisfaction of the customer. If the organization is so certified, eg by ISO 9001:2008, this conflict quality and business management is more critical and can impact on non-conformities and even loss of license.


Quem lida com a Qualidade, ferramentas, auditorias, certificações, conceitos, etc. sente dificuldade com alguns modelos de gestão das empresas e os quais podem gerar problemas de evidenciar as interfaces entre processos, a autoridade do processo Qualidade no organograma da organização, o comprometimento dos gestores dos processos com o Sistema de Gestão da Qualidade. Até que ponto os interessados pela organização, chamados de “stakeholders” podem interferir na eficácia do Sistema de Gestão da Qualidade? Os acionistas cobram resultados dos presidentes que cobram resultados dos diretores que cobram resultados dos gestores, etc., contudo sempre com a ênfase no financeiro, afinal partiu dos acionistas e eles querem dinheiro, lucratividade. Nesse cascateamento o foco no cliente vai sendo perdido e o Sistema de Gestão da Qualidade começa a perder importância, até que a empresa perca mercado por baixa Qualidade e insatisfação dos seus clientes. Faltou dinheiro, quem é o culpado? O chão de fábrica e a Qualidade que não trabalharam como deveriam. Ou a visão errada de administração? Antigamente víamos o departamento da Qualidade junto do presidente da empresa, passando a ele a eficácia do Sistema de Gestão da Qualidade e dando recomendações de riscos e devidas mitigações para novas ideias, projetos, decisões.

Hoje encontramos processos da Qualidade completamente afastados das decisões estratégicas das organizações, pior, administrações que nem conhecem os conceitos da Qualidade e do que fazer para deixar o cliente satisfeito. A Qualidade é vista quase como um simples departamento para inspecionar peças e aplicar as ferramentas para identificar causas. A Qualidade deve ter visão sistêmica conforme pede a norma NBR ISO, deve ter autoridade para indicar oportunidades de melhoria contínua e riscos para os processos. Aliás, um dos requisitos da norma diz que a organização deve analisar criticamente através da Qualidade qualquer alteração que possa impactar no Sistema de Gestão da Qualidade. Trocam-se processos, pessoas sem evidenciar se as competências atendem os requisitos do cargo, conforme a norma exige, não se avaliam se os recursos existentes atendem as mudanças, etc.

Vamos falar de duas gestões muito divulgadas e a sua relação com o Sistema de Gestão da Qualidade.

a)    Governança Corporativa:

É todo o conjunto de processos, políticas, regulamentos, estudos das relações entre os “stakeholders”. Basicamente garante a aderência de todos os “stakeholders” aos códigos e regulamentos determinados para a organização. Programam-se controles e regras para monitorar e responsabilizar os gestores pelas suas decisões. Por este ponto de vista é muito parecido com um Sistema de Gestão da Qualidade onde temos regras, os requisitos da norma, temos processos com os seus “donos” respondendo pelos resultados através de indicadores de desempenho. Mas, para quem é da Qualidade, qual é então o problema? A governança corporativa tem uma ênfase muito grande nos “stakeholders” acionistas, maximizar valores para eles e não pensa tanto na sustentabilidade da organização baseada em um Sistema de Gestão da Qualidade consistente, uma base firme que ajuda a conquistar o mercado. Tanto que as auditorias são diferentes, através de leis do tipo Sarbannes-Oxley.

Um gerente da Qualidade que tente recomendar a um gerente comercial algo pensando numa melhoria para o cliente, mas que vá contra a necessidade de faturamento, vai receber a resposta que a determinação da alta direção é vender, mesmo que se venda uma só vez e não se cative o cliente. Exagerando é isso mesmo. A governança corporativa com ênfase na eficiência econômica e não na eficácia de atendimento, não gera sustentabilidade ao negócio. O Conselho de Administração garante assim o retorno do investimento para aqueles fornecedores de recursos, mas se não levado em conta que a Qualidade também deve estar nesse contexto, a organização não será sustentável por tanto tempo.

“Corporate governance” é uma área que investiga a forma de garantir/motivar a gestão eficiente das empresas utilizando mecanismos de incentivo como contratos, padrões organizacionais e a legislação. O que “frequentemente se limita à questão da melhoria do desempenho financeiro...” – Cfr. Definição dada pelo Instituto Português do Corporate Governance (http://www.cgov.pt)

As oito principais características da “boa governança” são:

1-    Participação

2-    Estado de direito

3-    Transparência

4-    Responsabilidade

5-    Orientação por consenso

6-    Igualdade e inclusividade

7-    Efetividade e eficiência

8-    Prestação de contas

Estas características podem ser alinhadas com o Sistema de Gestão da Qualidade, até mesmo a sétima e a oitava que têm um foco no financeiro, afinal a qualidade também fala dos custos da não qualidade (desperdícios, reprovações, inspeções, fretes, devoluções, garantia, etc.). O problema é como a Qualidade é vista dentro da Governança Corporativa, como ela tem força para dar força ao Sistema de Gestão da Qualidade para que a empresa seja sustentável no mercado e maior que a concorrência pela qualidade e não apenas pelo financeiro.

b)    Gestão matricial:

A principal característica deste modelo de gestão é que pode haver mais de um chefe ou gestor. Normalmente usada em empresas com incertezas gerando muitas informações, projetos dependendo de várias áreas da organização, fortes restrições financeiras ou de recursos humanos, etc. É um tipo de departamentalização com equipes compostas por diversas especialidades com objetivos comuns. Permite o reaproveitamento das equipes de trabalho, são otimizados os recursos, exige uma mudança enorme no modo comportamental de todos da organização. Os funcionários normalmente têm dois chefes, estes aprendem a compartilhar o poder e a resolver as divergências através do confronto.

A gestão matricial é uma função colaborativa obrigando o compartilhamento das informações.

Pontos Fortes da Gestão Matricial:

a)    Tomada de decisão altamente favorecida;

b)    Clima de negociação fortalecido minimizando conflitos;

c)    Responsabilidades podendo ser gerenciadas por diversos setores;

d)    Organização muito mais flexível gerencialmente;

e)    Sistemas de avaliação duplos;

f)     Equilíbrio do poder, decisões não tomadas ditatorialmente.

Pontos Fracos da Gestão Matricial:

a)    Conflitos de interesses entre gerentes e processos;

b)    Ambiguidade de comando devido a dupla subordinação, a quem obedecer?

c)    Avaliação da performance dificultada e resultando em deficiente reconhecimento. Um chefe avalia bem e o outro mal, então?

d)    Necessidade dos gestores terem uma enorme preparação individual para conseguir gerenciar interesses diferentes, conflitos, produtos e setores distintos, etc.

E quanto à Qualidade?

Imagine um Sistema de Gestão da Qualidade onde, segundo as normas, deve haver claramente o desenho de processos desse Sistema, claramente identificadas as relações entre os processos, os seus donos, como é medida a eficácia de cada processo. Numa gestão com mais de um chefe, qual é o responsável pela eficácia daquele processo, por responder pelos indicadores de desempenho e devidas ações? E os objetivos de cada processo serão determinados por qual chefe? Quando uma não conformidade, para quem abrir a mesma?

O processo da Qualidade, onde deverá estar posicionado dentro do organograma da empresa, com essa gestão matricial, para que mantenha a visão sistêmica, um dos oito princípios da Qualidade? A eficiência da organização é altamente favorecida com a gestão matricial, mas a eficácia em atender o cliente pode ficar comprometida. Os diversos interesses, diversos conflitos e resultados dispersam o foco no cliente final, primeiro princípio da Qualidade. Para qual dos vários chefes envolvidos num mesmo problema a Qualidade vai emitir recomendações ou pedir causas e ações corretivas? A Qualidade precisa estar dentro da cadeia com poder para indicar responsáveis para resolução dos problemas, pois ela é a única que continua fora da gestão com foco na eficiência, no faturamento, etc. Ela continua focada no cliente, na sustentabilidade através da satisfação do cliente, ou seja, na eficácia (atingir o objetivo) e não só na eficiência (quanto gastou para atingir o objetivo).

Conclusão:

Independente dos modelos de gestão, a Qualidade deve estar junto ao topo da cadeia para não ser influenciada pelos conflitos de interesses, pensando apenas no cliente e na sustentabilidade e com autoridade para cobrar causas e ações por parte dos processos. E isto, um auditor pode sim questionar e até abrir uma não conformidade.

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