sábado, 6 de novembro de 2010

O papel de professor

Vendo um trecho de um filme com a Barbara Straisend, “O espelho tem duas faces” vemos o introvertido professor Gregory Larkin dando uma aula para ele mesmo e não para os seus alunos. A paixão pelo assunto o faz sonhar quando ministrando a aula. Isto acontece muito com os gênios, se apaixonam pelo conhecimento e não conseguem passá-lo aos seus pupilos. Vemos nesse trecho do filme a professora de literatura Rose Morgan (Barbara Straisend) tentando mostrar a ele que deve se comunicar com os alunos e não simplesmente jogar o conhecimento no quadro negro. Gostaria antes de colocar umas observações. Estava em dúvida no tocante a o que é saber e o que é conhecimento. Qual a diferença? Pesquisando descobri uma boa definição: “saber é não apenas ter o conhecimento, mas ser o conhecimento. A sabedoria é não só ter o conhecimento, como saber utilizar esse conhecimento”. Justamente no saber que o professor Gregory estava com problemas. Tinha um profundo conhecimento, mas não o transmitia aos alunos, não transformava o seu conhecimento em saber para os alunos. Como o professor deve ser aquele que instiga, é aquele que faz os alunos descobrirem os caminhos para a construção do conhecimento, não podemos mais ter aquele professor que joga o conhecimento no quadro negro ou o passa como se todos os seus alunos fossem agentes passivos no processo. Sócrates, filósofo grego já fazia isso, a cada pergunta feita ele respondia com outra pergunta obrigando os seus pupilos a pensarem, manipularem o conhecimento, questionarem a realidade a qual, como conhecimento, não é eterna. O aluno errando está aprendendo com o erro e até mesmo o professor aprende com esta nova postura. É o professor pesquisador fazendo os seus pupilos serem também pesquisadores, entrando no processo com os seus conhecimentos adquiridos interpretando e comparando esses novos conhecimentos como diz a teoria do construtivismo. O professor tem de criar condições externas favoráveis no ambiente de aprendizagem para que o seu conhecimento se torne saber para os alunos, os desafiando a serem agentes ativos na construção do conhecimento em cada um deles. No trecho do filme vemos o professor mostrando que tem o conhecimento, dando aula apaixonadamente com o assunto, mas a comunicação péssima, o conhecimento não se tornando saber para os seus alunos, faltando a indagação, a revisão de padrões, a pesquisa dentro de cada um. Uma pesquisa se faz com tentativas e erros e é assim que nós melhor aprendemos e que construímos o conhecimento. O processo de Qualidade em empresas mostra que a busca das causas dos problemas é eficaz ao se usarem ferramentas que obrigam o trabalho em equipe e o constante questionamento como a ferramenta dos 5. Porquês. Tal coisa aconteceu, por quê? Para a resposta, novo por que e assim por diante. No quinto por que, com certeza temos a resposta, a causa do problema. Numa aula, ao tornar o aluno um sujeito ativo e um indagador, usamos este princípio que já era do Sócrates. O aluno se torna professor dele mesmo através da comparação dos conhecimentos entrando na sua mente com o conhecimento adquirido na vida. A classe se torna uma fonte de conhecimentos e os alunos terão a sabedoria de utilizar esses conhecimentos. O professor passa daquele “cuspidor” de conhecimentos para um guia, um moderador, um assessor dos seus alunos. A construção, desconstrução, reconstrução, já que o conhecimento nunca é definitivo e as teorias não são estáticas, são um mundo de aprendizado para todos na sala, incluindo aquele que estava ali para ensinar. Lembro que só o professor não é responsável por essa postura, a universidade de criar esta possibilidade. Se a universidade só se importa com o número de alunos aprovados, se a universidade só se importa com o resultado próprio e não em formar verdadeiros profissionais, mesmo que o professor deseje tornar a sala de aula numa fonte de conhecimento, terá dificuldades. Eu mesmo, como professor de aerodinâmica e conhecimento técnico para pilotos e mecânicos de aeronaves não ficava só na passagem das informações. Queria ver profissionais com conhecimento do porque das coisas. O como fazerem esse conhecimento tornar-se saber no seu dia a dia profissional. Usando simuladores mostrava na prática o porquê dos efeitos e os alunos se desafiavam internamente na busca de respostas e viam se haviam errado ou acertado na simulação. A escola me questionou com a alegação que era perda de tempo, o que importava era os mesmos passarem na banca examinadora, não interessava o conhecimento e nem o saber, apenas a quantidade de alunos aprovados. Por isso a universidade tem sim de ser uma geradora de novos saberes e não só transmissora de saberes antigos. Se fosse assim era só passar a matéria aos alunos e pronto. A universidade deve ser formada pelo professor, aluno, meio e a própria universidade e nenhum destes pilares deve ser passivo.

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